quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Divergência


Nem eram assim. Desses que combinam em tudo, desses que desejam igual.
Não são desse jeito. Desse, assim, esperado, imaginado.
Não planejaram. Não sonharam um com o outro. Não imaginaram o melhor momento para acontecer.
Caminham sobre ruas diferentes, em cidades até que próximas. Improvável que se esbarrem por acaso.
Não possuem muitos assuntos em comum. As crises no trabalho nunca se assemelham. O cansaço, quem sabe?
Seus modos de dizer raramente se encaixam. Apenas as mãos sabem como se encontrar.
As palavras mais usadas sempre variam; os apelidos, permanecem.
Vivem em crise, mas divertem-se.
Os timbres de voz contrastam, mas agradam-se.
Possuem muito pouco sentido. Nada é fácil de entender.
Tentativas, desistências.
Pedidos, promessas.
Mesmo quando combinaram, não deu certo. A impulsividade sim.
Não eram assim. Não são exemplo. Fogem ao ideal
No entanto, de alguma forma, atraem-se.
Quem quer o normal? Quem se importa?
Pois nem eram assim, não são desse jeito. Não são. São.

[17.08.2012]

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Razão mínima

    Sinto na boca um gosto amargo, o qual não sei discernir... E está tão frio. Fecho os olhos para o que está em volta, mas mesmo assim vejo... E não entendo. Os acontecimentos me escorreram pela mão feito areia, fugiram de mim e me assustam.  E é tudo tão estúpido...
    Os pés, que eu juro firmes, estam flutuando em uma realidade absurda. E por quê?
    Uns minutos sem vigia, parabéns, este é seu prêmio.
    Vamos apenas assim... Porque depois da chuva, os raios de sol, mesmo que fracos, podem aquecer um olhar vazio.
    Um dia de cada vez.  



[28.12.11]

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Espera-ança

Observe a fogueira.
Ela possui o ardor do olhar de alguém que já observei em um espelho.
Ela grita, ela chama... Mas ninguém sabe o que.
Ela quer ser tocada, mas ninguém sabe como.
Ela consome a madeira.





Assim como a consomem.





Chegue mais perto, a sensação de calor é boa.
Tão boa quanto o frio?
Não sei... Pergunte a ela.
A ventania tenta...
A chuva deseja ser o agouro...
A água fria quer ser o fim.





Mas nada.
Nada...
Nada apaga a chama...
A chama.





É pequena...
Está nos restos da madeira que fora consumida...
Está no fim daquilo que foi um fogaréu, mas permanece ali...
Ali.
Querem ver seu fim, mas ela persiste e vai persistir.
O mais lindo dos sonhos.

domingo, 12 de junho de 2011

O Elogio da persistência de um quarto


   Existe uma pitada de esperança por trás daquela nuvem de incerteza, mas tudo bem, ninguém precisa saber.
  
   Um quarto escuro, mobiliado como qualquer outro: uma cama, um armário, um criado-mudo, uma escrivaninha... Roupas amontoadas em uma cadeira, lembranças espalhadas por entre os livros e os cadernos que estam, há muito, esquecidos na mesa de sonhos.
   As fotos no mural estam desbotadas. A ordem em que foram colocadas já não faz mais tanto sentido assim e o último recado que fora colocado continua torto e não fora lido.
   A janela quer ser aberta. O chão, que não fora mais varrido, deseja sentir o calor do sol... Calor do sol.
   Tudo continua em seu devido lugar, do modo que fora deixado no último dia, e ninguém mais entrou ali. Está silencioso, empoeirado e esquecido, mas continua ali. Continua sendo o quarto, continua guardando as memórias... Continua.
   Já o armário... Está vazio. Não há roupas, sapatos e nem as frustrações que, eventualmente, eram guardadas lá. Só há uma caixa, uma caixa de arrependimentos, verdades e cartas que nunca foram lidas. Ninguém encontrou. Ninguém enxergou.
   A nuvem... A nuvem cobre tudo, cobre toda a expectativa. Não tem cor, cheiro, nem mesmo um nome. É indeterminada. No entanto, cobriu o que estava ali... A porta, os desejos, os acontecimentos, a espera. Seja o que convivesse ali, se fora. A porta se perdeu.    





[Fim de sábado, pelas 11 e tantas da noite.] 

domingo, 24 de abril de 2011

Criando defesas a Morpheus


 Queria que decifrassem meus sonhos e fizessem-me entender porque eles parecem tão loucos assim, de primeiro olhar. É difícil lembrar a última vez que sonhei algo que pudesse ser classificado como ‘’normal’’, o que quer que seja que essa palavra sacana signifique... Mas sonhos não precisam adentrar a normalidade, não é?
 Lembro as sábias palavras de alguém há muito esquecido me dizendo para nunca dividir meus sonhos com ninguém porque ‘’eles fazem parte de um mundo que só pertence a você, de fato e de direito’’ e em parte até que é verdade. Qual pessoa nunca teve um sonho que logo após de acordar pensou ‘’Esse eu nunca vou contar pra ninguém’’ ou simplesmente ‘’Uau!’’, que atire a primeira pedra! Mas também existem aqueles sonhos de pessoas realmente Sonhadoras com S maiúsculo, que desejam o conserto do mundo, o conserto dos sentimentos humanos... Mas esse texto tem a finalidade de ser casual e não entrarei nesse mérito hoje.
 Pensando em mundos interiores, paralelos e particulares, hoje presenciei uma cena, provavelmente bem comum, do cotidiano de umas pessoas desconhecidas... A mãe olha para a filha, de no máximo seis anos, e diz ‘’Para de sonhar acordada, menina, que coisa!’’ e aí dá um puxão para a pobrezinha ‘’acordar’’... Foi esse acontecimento curioso que me fez pensar sobre meus sonhos e os sonhos que, talvez, uma garotinha de seis anos tenha. É tão difícil na rotina das pessoas conseguir encontrar alguém que, mesmo por um momento esteja sonhando acordado... Quero dizer, por vontade própria. Porque involuntariamente é muito fácil de reconhecer talvez dezenas em poucos minutos. Por vontade própria que quero dizer é alguém que se permita se desligar daquele mundo rotineiro e apressado a que estamos acostumados viver para se dar um momento prazeroso de sonhos e pensamentos íntimos... Alguém que se permita viajar tão longe a ponto de perder o trem que o levaria para o trabalho, sem se importar que vai chegar alguns minutos mais tarde e que, talvez, isso possa lhe custar algo do salário, só para ter aquele momento humano de aspirações, pensamentos e sonho.
 É engraçado pensar que é um momento em que não precisamos ter vergonha do que vamos ‘’fazer’’ ou ‘’dizer’’ porque tudo faz singelamente parte de um fluxo infinito de pensamentos... Eu, particularmente, gosto de pensar que exista algo em minha vida que seja inteiramente meu, sem egoísmos ou nada do tipo, algo que me pertença. E suponho que por isso ter visto uma mãe, por mais amável que seja, privar, involuntariamente, é claro, sua filha de viver intensamente algo que a pertença a ela e só, exclusivamente, a ela, tenha me irritado um pouquinho. Sonhos podem lhe conduzir e definir e, também, lhe fazer persistir porque o que seria a Esperança senão um sonho fantasiado de sentimento?
 É... Eles nos completam e se é que posso dizer, nos fazem viver de maneira mais leve, dependendo de como forem interpretados por nós... Ou, eu é que sou Sonhadora demais.

sexta-feira, 8 de abril de 2011

''Give peace a chance''


  Em uma janta qualquer o pessoal resolve quebrar a rotina e liga a televisão... E eu perco a fome. Acontecimentos como esse no Rio de Janeiro me fazem pensar nas pessoas que acreditam no ser humano, pessoas filantrópicas que acreditam que tudo pode melhorar, tudo pode mudar... E em momentos como esse eu me pego pensando no quão essas pessoas são sonhadoras... Mesmo sendo uma delas.
  Eu nunca esqueci de uma parte de ‘’O Caçador de Pipas’’ em que o pai de Amir explica que roubar é o pior dos pecados... Não me lembro das exatas palavras, faz três anos que li, mas me lembro da parte em que ele diz que matar alguém é roubar o direito que essa pessoa tem de viver... E é a absoluta verdade. Vai muito além de minha compreensão entender porque uma pessoa resolve acabar com a própria vida e, de quebra, com a de mais não sei quantas crianças. Acabar com a própria vida, beleza, quer morrer? É uma escolha, não é? Mas o que aquelas pessoas tinham haver com isso?
  O que mais me indigna é o individualismo de uma criatura dessas... Do tipo ‘’Danem-se as crianças e o futuro que elas poderiam ter, danem-se os pais e os familiares, dane-se a dor que todos eles vão sentir, o que eu quero é me desumanizar antes de morrer!’’. Eu, realmente, não entendo. E vou ficar sem assistir qualquer tipo de jornal pelo menos na próxima uma semana... Não agüento ver o fato de que uma tragédia como essas pode interessar tanto a população, é lamentável.
  Sem generalizações, eu sei que não é um imbecil como esse que vai fazer com que o mundo inteiro vire um psicopata ou algo do tipo, eu sei que existem pessoas boas, ou, pelo menos, acredito nisso, só não consigo conter minha indignação. No final, acho que eu é que sou sensível demais...
  Desejo a todas as famílias muita força e esperança nesse momento difícil.       

domingo, 6 de março de 2011

Brisa Matinal

O vento sopra e canta em meu rosto, afasta a névoa de minha mente e permite que revivam as mais variadas e ocultas sensações juntamente com sentimentos antigos e há muito esquecidos.
E eu sinto, infinitamente, eu sinto cada memória se tornando palpável... Sinto.
Então fecho a janela e vejo a névoa cobrir as partes ocultas de mim como se estivesse fechando-as em uma caixa. Uma sensação de alívio paira sobre o cômodo vazio e caminho em direção a saída... Para mais tarde sentir saudades, até mesmo, do que não tive, denovo.